terça-feira, 22 de maio de 2012

A carência de agentes no Fisco paulista



*Ivan Netto Moreno
Nos últimos tempos, o Fisco paulista vem sofrendo uma redução acelerada de seu quadro servidores, pelo número crescente de aposentadorias.  Somente em 2011, mais de 120 Agentes Fiscais de Rendas passaram à inatividade, aos quais se somam perto de 90 novos pedidos que tramitam nas repartições, fazendo prever que a sangria no quadro tende a crescer ainda mais nos próximos meses. O cenário já preocupa a administração fazendária, uma vez que o quadro de auditores é essencial para o Estado, por seu trabalho na arrecadação tributária e na fiscalização dos contribuintes, suporte para todas as demais atividades do Governo.    
Em 1989, quando o porte da economia brasileira e paulista era menor, a lei previa a necessidade de um quadro de 5 mil Agentes Fiscais de Rendas. Vinte anos depois, em 2008, o País cresceu e, por consequência, aumentou muito também o universo de empresas paulistas que precisam ser fiscalizadas pelo Estado. No entanto, em lugar de aumentar o quadro de agentes do Fisco para adequá-lo às novas demandas de trabalho, tanto em volume quanto em complexidade, o Governo paulista preferiu encolher ainda mais o quadro de Agentes Fiscais de Rendas, reduzindo-o a apenas 4.750 cargos.  
Se todos esses cargos estivessem ocupados já haveria um problema sério na administração fazendária. Mas sua gravidade torna-se bem maior quando se apura que, hoje, o setor conta com 1.240 vagas não preenchidas e, portanto, apenas 3.510 agentes fiscais estão em atividade, um número que vai diminuindo a cada dia. Essa carência de servidores do Fisco paulista fica mais evidenciada ante o fato de São Paulo contar hoje com mais de 1 milhão e 700 mil contribuintes, dos quais 267 mil são empresas de maior porte. Ainda que a Administração Tributária paulista tenha se modernizado bastante nos últimos anos, com usointenso de recursos de informática para auxiliar no controle das atividades dos contribuintes, é inegável que o número de agentes fiscais desceu a um nívelpreocupante, muito abaixo das necessidades mínimas do trabalho.
Pesquisa recente realizada pelo Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo, junto a vários países, mostra que, na relação entre o número de servidores fiscais e o total da população, o Estado de São Paulo conta com apenas um servidor do Fisco para cada grupo de 11.895 habitantes, enquanto essa proporção nos EUA é de 1 servidor fiscal para cada 3.327 habitantes, no Canadá, 1 para 848, na Alemanha, 1 para 729. Como esses países também investem bastante na informatização de suas administrações tributárias, os números acima bem ilustram o exagero que ocorreu no enxugamento do quadro de Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo.
A combinação do aumento das demandas do serviço com a redução contínua do quadro de servidores tem provocado uma pressão muito grande sobre a força produtiva remanescente,  gerando desmotivação e insatisfação cada vez maiores dos agentes fiscais, o que influencia até na qualidade do trabalho fiscal, embora seja difícil mensurar ainda seu provável efeito na arrecadação. Não é preciso muito esforço para entender que essa piora das condições de trabalho vem sendo uma das razões mais importantes para o crescente número de pedidos de aposentadoria dos agentes do Fisco.
É urgente, portanto, que se abra logo concurso para recompor o quadro de servidores do Fisco, ao menos para preencher as vagas hoje existentes. Mas para isso será necessário que o Governo do Estado deixe de lado sua equivocada política de economizar o máximo que pode nas despesas com osservidores públicos. No caso específico do Fisco paulista, ao deixar de investir na manutenção de um quadro suficiente para atender as necessidades do serviço e ao não investir na valorização de seus agentes fiscais, inclusive no aspecto remuneratório, o Governo do Estado acaba praticando o chamado “tiro no pé”, porque não recebe o retorno multiplicado desses investimentos, na forma de aumento da arrecadação tributária.
*Ivan Netto Moreno é presidente do Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo - Sinafresp

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